A rotina do dia-a-dia
Hoje vinha no autocarro e apercebi-me que vinham dois velhotes a resmungar. Um deles repetia constantemente que a juventude já não tinha respeito nenhum e que nem sabia o que era o respeito. E qual a razão para tal atitude? Justamente porque vinha uma senhora a dizer que não tinham dado lugar a uma grávida. Mas tudo murmurado entredentes, como um cão raivoso a morder um osso escanzelado. Realmente o que se passa nos transportes públicos mais parece ser um diálogo entre ninguém , ou seja, um diálogo para o ar, para as paredes, mas nunca para o OUTRO, para o reconhecimento de que o indivíduo em referência existe. E isto eu considero uma falta de educação. Porque na escola sempre me ensinaram que existe um EMISSOR, um RECEPTOR e uma MENSAGEM.. Aliás, sugiro que colem afixados cartazes nos transportes públicos estes diagramas, para ver se algumas personagens mais petulantes as compreendem. Por este altura devem estar vocês interrogados sobre se seria eu a bendita personagem, mas não, era mera espectadora ensonada pelas oito horas de sono, embrulhadas em mil e um cobertores.
Na mesma viagem, oh sim, que viagem atribulada, vinha o respectivo senhor do respeito, por sinal um senhor muito falador. Porque há pessoas que às nove da manhã parecem uns papagaios falantes, dá-se-lhes um bocadinho de trela e não páram nunca. Só até à próxima estação. E retomando, este senhor passou o resto da viagem a falar de consultas e de médicos. Porque outra velhinha dizia que tinha ido ao médico fazer uma radiografia do braço e que lhe fizeram no sítio errado. Se calhar foi à perna e agora tem de fazer uma operação para cortar o braço que está muito grande. Entretanto, eu imaginei-me velhinha, com 80 anos, e desmaiei de susto. Entre um acordar sem a dentadura, às quatro mil e trezentas viagens mensais de autocarro, até as mil e duzentas consultas a médicos, desvaneci. Pode ser que quando tiver 80 anos esteja tudo modernizado e haja tipo consultas médicas via internet e carrinhas motoristas que nos levem aos hospitais e comprimidosinhos verdes que nos deixem felizes e sorridentes...
Vamos sonhar mais um bocadinho?
4 Comments:
É tão bom sonhar... E Deus nos ajude a chegar até aos 80 ;) c tanta tecbologia a vida será muito mais fácil... Gostei da cena do EMISSOR, RECEPTOR e MENSAGEM... Parece k o nosso curso serviu p alguma cena... ou não!? lol
O que uma viagem de autocarro nos pode fazer pensar, hein! Fascinante e ao mesmo tempo assustador pensar ter de chegar à velhice... parecendo que não estamos a caminhar para ela, passo a passo.
As pessoas hoje e dia praticamente não falam entre si... Estão numa discoteca a falar aos altos berros e ninguém se ouve, estão num bar ou na rua e nada dizem, estão sempre a pensar no que vão fazer a seguir e não se concentram no momento presente. E depois também há aqueles que por muito que falem não conversam nem comunicam...
O que vale é que eu tenho a linda Inês aos trambolhões para falar comigo eheheh
Sabes, também tenho muitos destes pensamentos de "autocarro". Talvez porque ande muito de autocarro. De qualquer forma, há dias assisti a uma situação que me contrariou profundamente e senti-me mal comigo própria por ser habitual as pessoas não se incomodarem com o mal que aflige as outras. Enfim, a história: uma senhora idosa, com ar débil e frágil, estava sentada num dos vários bancos livres no 65 e um senhor também idoso, mas mais novo, foi ter com ela e começou a reclamar com ela porque tinha passado à frente na fila. Pelos vistos, um senhor deixou-a passar e a senhora passou. Mas o senhor que reclamou ia sentado e deve ter-se sentido muito orgulhoso da sua atitude que fragilizou ainda mais a pobre senhora, que ficou visivelmente nervosa e perturbada. Marcou-me porque é apenas mais uma prova do egoísmo e individualismo que transpira nas viagens de autocarro. As pessoas congratulam-se por espezinhar os outros. A mim, perturba-me bastante confrontar-me com esta realidade.
Ah! Aproveito para dizer: Obrigada pelo link para o meu pseudojornal. Beijinhos!
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