Sobre tudo e sobre nada
No outro dia fui ver um filme muito bom. "O Fiel Jardineiro", já ouviram falar? Pois é, o realizador da Cidade de Deus, conseguiu recriar uma outra cidade, não sei se de Deus, mas desta vez em África.O modo como ele recria os sítios, as pessoas, as culturas, é simplesmente fabuloso. As cores são constantes no filme, são berrantes, múltiplas, definidas e vivas. As pessoas são e estão no filme, como se estivessem dentro dum quadro de Gauguin e são definitivamente o elemento essencial do filme. O argumento fala sobre a utilização abusiva e criminosa de medicamentos que estão a ser testados pelos laboratórios ocidentais nos africanos, de forma a prevenir uma eventual pandemia de tuberculose super-hiper resistente e mortífera. Mas aqui coloca-se o problema, as pessoas não são avisadas de que estão a ser cobaias destes tratamentos. Ao longo do filme vamos percebendo os múltiplos interesses que estão por detrás. Porque o fiel jardineiro não só zela pela segurança das suas plantas, mas é sobretudo fiel ao amor perdido da sua mulher.
Saímos do filme com uma dúvida: Quanto vale uma vida em África? Um milésimo duma vida no Ocidente? Porque realmente quando reparamos na comunicação social, um desastre dum terramoto no Paquistão acaba quase por ter a mesma dimensão que um autocarro que cai numa valeta e mata 30 ou 40 portugueses, ou é igualado a uma explosão no metro de Londres. Será que a importância que damos a cada vida depende do limite geográfico em que esta está inserida? Quanto mais longe menos importa, quanto mais perto, mais a nossa consciência é atingida?
Leiam o que diz este texto. "Na África, as possíveis regulamentações médicas e farmacêuticas datam da época colonial e parecem obsoletas e inadequadas. Os riscos de falta de ética são ainda maiores porque os laboratórios fazem cada vez mais seus testes no continente negro. Na verdade, ali, seu custo é até cinco vezes menor do que nos países desenvolvidos. Além disso, as condições epidemiológicas na África revelam-se constantemente mais propícias à realização de testes: frequência elevada de doenças, sobretudo infecciosas, e existência de sintomas não atenuados por tratamentos reiterados e intensivos. Enfim, o caráter dócil dos pacientes, em grande miséria, dada à pobreza das estruturas sanitárias locais, facilita as operações." Visitem o link "http://www.redenortebrasil.org.br/nov_eventos.asp?Cod=46". Retirem as vossas conclusões.
3 Comments:
Neste mundo em que uns são mais iguais que os outros (mas há uns quantos bacanos a mais, já diziam e bem os Da Weasel), a solidariedade é cada vez mais uma palavra bonita, mas para estar no dicionário. Quantos de nós não estamos agarrados ao nosso umbigo, ao nosso mundo, aos nossos problemas, e a culpa é sempre do outro, do outro e do outro.
A criança queixa-se que a mãe não lhe deu o brinquedo (a culpa é da mãe), o aluno queixa-se que o professor o chumbou (a culpa é do professor), o jogador queixa-se do árbitro (a culpa é do árbitro), a Joana queixa-se que o Miguel não telefonou (a culpa é do Miguel)...
Fico feliz por pensares nestas coisas e fazeres com que todos os façamos. :-) Mesmo que aos trambolhões
Também gostei do filme, embora ache que está um pouco abaixo do excelente "Cidade de Deus" (mas era difícil igualá-lo). De qualquer forma, o meu filme do momento é mesmo "Elisabethtown", uma grande surpresa.
O teu post fez-me lembrar os valores-notícia, abordados nas aulas do Nelson Traquina lol (respect!).
Força com o blog, ainda é novito mas já está bem desenvolvido :)
Grande filme! Sem dúvida! Dá que pensar em tantos aspectos e recria um ambiente que se conhece muito pouco, apesar de aparecer constantemente nas notícias...
Elizabethtown Gonçalo? Ainda não vi, mas a minha aversão ao Orlando Bloom faz-me duvidar ;) eheh.
Be well, stay better
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