O viajante
Insisto em oferecer-te um par de asas ,Que tu diariamente escondes dentro do armário,
Para ti os anjos não podem voar.
Sentado na berma da estrada, a ver os carros passar.
As boleias assobiam ao fresco,
O teu rosto emudecido devolve educadamente a oferta,
prefere o trilho de volta a pé.
Até o par de sapatos de dança rotos pouco efeito tem,
Tu dizias, sapatear descalço no alcatrão da estrada é por acaso, uma pura sorte.
O saco carregado de dúvidas às costas, de letras matemáticas com cifrões em chavo,
E picaretas de carvão suadas de lágrimas,
Acumula-se solidamente.
Encurvam-se as costas do soldado vagabundo,
Encolhe-se o olhar, numa franja que esconde o desafio.
Se os se’s crescem à medida das pulsações,
São ervas daninhas da razão,
Trepadeiras das pernas,
Impedem o voo nocturno e celeste do viajante.
Já não se vê o fim do trajecto,
Mas também nunca se viu o princípio.
Em caso de dúvidas a tabuleta indica o sentido,
E o cheiro do mar salgado põe em movimento a marcha.
A garrafa de oxigénio já pesa nas costas,
Há que soltá-la e respirar livremente,
O primeiro sonho quer ser colorido,
A primeira estrada vai ser percorrida,
A primeira vida tem de ser vivida.
3 Comments:
CARAMBA!!!!!!!
Regresso em grande!
Que delícia ler-te, depois de uma semana destas...
Bjinho
Muito bem :D
Enviar um comentário
<< Home