c Trambolhão: O viajante

sexta-feira, maio 15, 2009

O viajante

Insisto em oferecer-te um par de asas ,
Que tu diariamente escondes dentro do armário,
Para ti os anjos não podem voar.


Sentado na berma da estrada, a ver os carros passar.
As boleias assobiam ao fresco,
O teu rosto emudecido devolve educadamente a oferta,
prefere o trilho de volta a pé.


Até o par de sapatos de dança rotos pouco efeito tem,
Tu dizias, sapatear descalço no alcatrão da estrada é por acaso, uma pura sorte.


O saco carregado de dúvidas às costas, de letras matemáticas com cifrões em chavo,
E picaretas de carvão suadas de lágrimas,
Acumula-se solidamente.
Encurvam-se as costas do soldado vagabundo,
Encolhe-se o olhar, numa franja que esconde o desafio.


Se os se’s crescem à medida das pulsações,
São ervas daninhas da razão,
Trepadeiras das pernas,
Impedem o voo nocturno e celeste do viajante.


Já não se vê o fim do trajecto,
Mas também nunca se viu o princípio.
Em caso de dúvidas a tabuleta indica o sentido,
E o cheiro do mar salgado põe em movimento a marcha.


A garrafa de oxigénio já pesa nas costas,
Há que soltá-la e respirar livremente,
O primeiro sonho quer ser colorido,
A primeira estrada vai ser percorrida,
A primeira vida tem de ser vivida.

3 Comments:

At 6:12 da tarde, maio 15, 2009, Anonymous Anónimo said...

CARAMBA!!!!!!!

 
At 10:17 da tarde, maio 15, 2009, Blogger GONIO said...

Regresso em grande!
Que delícia ler-te, depois de uma semana destas...

Bjinho

 
At 7:35 da tarde, maio 20, 2009, Blogger Unknown said...

Muito bem :D

 

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