Pinguins sabedores
Os pinguins são demasiado humanos. Fui ver a "Marcha do Imperador" e gostei. Aquela marcha é subtilmente parecida à caminhada humana. Umas vezes incrivelmente sofredora, outras suavemente doce e ainda há quem diga, demasiado constante. Um passo atrás do outro, o som que emitimos, um caminho que não se confunde nunca, uma trajectória quase invisível aos nossos sentidos, mas que está lá disfarçadamente traçada. Sabemos que o sentido é sempre em frente. Aliás quando tiverem dúvidas sobre o que hão-de fazer no futuro, não hesitem, sempre em frente, para a porta, rua, café, auto-estrada, até chegarem ao oceano. Ponto de paragem inevitável, onde os pinguins encontram a sua fonte de sobrevivência e nós a nossa sobrevivência espiritual.
Durante todo o filme senti uma vontade incontrolável de me embrulhar debaixo daqueles cobertores brancos e macios que envolvem as suas barrigas, tal como as suas crias fazem.
Isto despertou em mim a necessidade do toque, do aconchego, do abraço, da mão na minha mão. Que sinto sem querer nos dedos da minha cabeleireira a massajar-me a nuca, na mão invísivel que me aperta as moedas nas portagens, na missa quando beijo estranhos sem identidade, cada vez que ando no metro ou sou violentamente sacudida num concerto.
O tacto é realmente importante, para nos sentirmos vivos e sentirmos que o outro existe. Mas tornámo-nos ignorantes e distantes. Indiferentes, acalmamos necessidades vitais com olhares doces, mensagens via telemóvel encurtadas por caracteres mínimos, palmadinhas nas costas, brindes efusivos de copos. Quando às vezes um abraço forte basta, que quebre a nossa respiração. Tal como os pinguins fazem, quando se unem contra as tempestades de frio e se aconchegam num escudo negro para ficarem mais quentes. Mas o que é estranho é que a nós nos é permitido tocar cada vez menos. Afinal somos todos da mesma espécie, mas de famílias diferentes. A única coisa a fazer é realmente enchermo-nos com mais roupa e mais casacos.
Já nem o calor nos ajuda, porque permitem-me discordar, somos portugueses latinos e afectuosos, mas tudo feito à distância. De cliques de telemóvel, de toques polifónicos, de fotos instantâneas de telemóveis, de blogs como este, de ...
4 Comments:
Olá Bequitas, é verdade, o toque é muito importante, daí eu estar sempre a puxar-te e agarrar-te e beijar-te e tal e tal e tal... não te preocupes que no Natal dou-te um pinguim com um edredon branco só para ti! :)
Somos seres do toque. E é engraçado como nem sempre o toque é tantas vezes "não físico", mas nada iguala o toque físico. Grande filme, este retrato dos Pinguins, de vidas tão perto e tão longe! Dá que pensar e quem viu dificilmente dirá: "gostava tanto de ser um pinguin".
Da a próxima vez que te vir dou-te um abraço daqueles, «aquele abraço» como dizem os nossos amigos de Viseu. Também sinto falta desse toque gerador de vida. Por vezes sentimo-nos tão acanhados, mesmo diante dos nossos amigos, de puxarmos alguém para nós e abraçarmo-nos com força e querer.
Vamos mandar o que os outros pensam às malvas e sempre que nos apetecer «cá vai disto!»: abraços para todos e todas.
E sempre que penso em pinguins só me lembro deles como seres cómicos, desde os insuperáveis amiguinhos de Madagáscar até ao clip que anda a circular pela net dum pinguim a dar um «calduço» a outro, eheheh.
Beijos para ti, Inês aos trambolhões
Um grande grande abraço para alguem k nos leva a sonhar em abraçar..
Alex :)
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