Hiena
O riso era incontrolável,
Parecias uma hiena.
Machada de tinta.
Com manchas gordas e difusas
Tinhas uma túnica comprida
Que te tapava os pés castanhos
E cheios de pó.
Eras gorda. Melhor obesa. Não te conseguias mexer com destreza, na cabeça dos condutores demoravas muitos segundos a atravessar a passadeira. Tinhas duas perninhas pequeninas encondidas por baixo do tronco forte.
Eras mesmo gorda. Melhor, obesa. Almoçavas uma sopa light aguada com dois pedaços de cenoura a boiar e lanchavas quatro pizzas escondidas no ventre dilatado. Calçavas uns chinelos velhos, o cabelo agarrado, preto, com mil e um jeitos, os olhos com rimel preto borrado, que procuravam cumplicidade nos outros olhos da rua.
Eras mesmo gorda, melhor obesa, preenchias uma cama dupla, agarrada ao teu gato persa laranja.
Um dia largaste o amor incondicional pelo teu galã da telenovela e perdeste-te no escuro da noite pelo amor de um espaço livre. Passavas noites a fio a contar dedo a dedo as estrelas que conseguias ver em bicos de pés, restícios dos anos de ballet infantis. Imaginavas-te a subir até lá, a voar como um balão inchado. Um dia foste cobaia nos testes dos foguetões. Subiste às estrelas e perdeste peso. Nadaste no ar e equilibraste a postura, para nunca mais caíres. Para nunca mais caíres diante dos olhares alheios, foste vedeta dos noticiários internacionais, disseste adeus ao planeta verde e abraçaste as estrelas azuis, laranjas, vermelhas, coloridas, tolerantes.
Publicado por Inês e Rodrigo - 14.04. 2008
3 Comments:
Não percebi o sentido mas gostei muito do texto. Tem imagens marcantes e o português utilizado não é fastfood
Olha, voltaste!
E agora acompanhada. Muito bem, Inês!
Tal como o anónimo, não percebi o sentido... :(
Bjinho
saudades tuas nês, xi coração apertadinho
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