c Trambolhão

quinta-feira, julho 24, 2008

Estou farta de... Um destes dias estava bastante farta de... E completamente a embirrar com tudo o que tivesse a ver com... Resolvi tirar um yogurt do frigorífico, mas este também estava impregnado de... E resolvi ligar a Internet e pesquisar por aquilo que as pessoas estão fartas, para saber se mesmo na outra ponta da rede, existe uma alma gémea que me compreenda. As respostas que encontrei tiram um pouco da embirração que tinha e deixam-me com um sorriso na cara.

Número 1: A típica adolescente que escreve no seu blog em como está farta de fazer coisas de que não gosta, porque as coisas que gosta de fazer são realmente poucas e remata no fim, a perguntar-se a si mesma porque é que é tão diferente dos outros. Isto porque se sente mal se não for à viagem de finalistas, mas também se sente mal se for. Aí está, preso por ter cão, preso por não ter cão! Mas lá está, isto é uma coisa que custa a interiorizar e que se aprende dia após dia, até morrermos. Estes jovens que andam todos em grupo e vestidos da mesma maneira, a ouvirem a mesma música, a lerem os mesmos livros e a verem os mesmos filmes, hão-de um dia perceber que não é preciso gostarmos todos das mesmas coisas. E que o mundo precisa desta pluralidade de sentimentos, de visões, de prazeres, de poucos uniformes. Que é bom acordarmos de manhã e dizermos alto e em bom som, hey eu não sou igual a vocês. Não me tentem oferecer-me uns ténis da marca x, porque eu não os calço, prefiro andar descalço. Eu dir-vos-ei o que quero.
Abomino assim algumas instituições como os militares, em que o espírito de pensamento individual é reduzido ao colectivo. Têm de marchar assim, vestir assim, calçar assim, dizer bom dia assim, quanto menos cada um introduzir a sua capacidade de variação individual, boom, melhores hipóteses teremos de conquistar o colectivo, de fazer com que um grupo de rapazes novos, acabe a matar tudo o que lhe aparece à frente, apenas porque em cima do superior, por cima de todos os superiores, se encontra um chefe andorinha (um chefe com cérebro de andorinha) que dita por vezes uns piu's piu's um pouco agressivos demais.

Número dois: "Confesso que estou farta dos colegas do meu emprego." E termina, "cada vez que uma abre a boca só tenho vontade de lhe dar estalos". Ora bem, a nossa vontade não devia ser tão reprimida assim, se tem vontade de dar um estalo, comece por dar uma palmadinha suave na bochecha. E se não houver qualquer manifestação de descontentamento pela outra parte, então aí parta para a agressão pura. Que satisfação, é o êxtase, poderá chegar a casa mais tranquilo em vez de chatear o mundo inteiro em sua casa, só porque lhe mudaram o canal enquanto estava a ver a sua série preferida. É que de facto, nós não podemos escolher as pessoas com quem trabalhamos. Há determinadas pessoas que não podemos escolher. A família, os colegas de trabalho. Os amigos e os namorados/amantes/maridos, podemos escolher à vontade.
Daí que se crie com os colegas de trabalho uma relação parecida com a que temos com a família.
Amuos, discussões, vontade de dar estalos, entram nesta relações a torto e a direito. Depois também temos de os gramar a torto e a direito. Entram pela nossa vida a dentro e exigem muita atenção. Mas claro que a nossa família é mil vezes melhor do que os nossos colegas de trabalho, tenham lá calma.

Número três: "Acho que estou a ficar farto de comida, e se não encontro nada para comer rápidamente ainda vou desta para melhor!" Aqui encontro uma contradição, quem fica farto de comida, tem de se habituar ao jejum. Não vale a pena criarmos uma relação de amor-ódio com a comida. Há que perceber que dependemos dela para viver, não há nada que enganar, nada de criar relações do género "eu sei que me estás a ver e eu te estou a ver, mas preferem continuar a ignorar-se. Nada disso, é melhor pensar, eu preciso dela, ela realmente não precisa de mim, mas não vou maltratar mais a comida por a nossa relação de forças ser dependente apenas do meu lado.

Número quatro: Arre, estou farto de semideuses! É isso, é verdade, às vezes sinto o mesmo. As pessoas que encontro na rua não se irritam com nada, almoçam tranquilamente, estão como que a pairar numa espécie de paraíso. Estão cheias de sucesso na vida, cheias de coisas boas, têm parceiros giros, acordam de manhã a ouvir músicas do Bruce Springsteen e adorammmmmmm acordar cedo, têm sempre energia para tudo e mais alguma coisa, são os designados "semideuses" e agora até estou a fazer aspas com os dedos enquanto escrevo. Apre que não há paciência para estas semi-espécies humanas, não há quem os faça cair na dureza da vida real, quem os faça sair da longa metragem de comédias românticas e os insira num filme de terror. Aviso: se encontrarem estes sorrisos pepsodent num elevador perto de casa, não hesitem em estrangular e colocar o cadáver na lixeira mais próxima. O mundo precisa também de almas negras, assustadoras e melancólicas. E agora não me atirem pedras, por favor.

Número cinco: Basta! Estou farto de que me chamem ladrão! Aqui parece-me uma frase tipicamente saída da boca dos dirigentes dos clubes de futebol, dos políticos, dos chefes das empresas, enfim tipicamente, de quem normalmente gosta de roubar os outros! Peço desculpa mas aqui neste casa não há perdão para declarações deste tipo, e não me identifico minimamente com tal queixa.

E ficamos por aqui que se está a fazer tarde.

1 Comments:

At 3:48 da tarde, agosto 31, 2008, Blogger pedro said...

Mas continua a escrever!

 

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