amoroso
Olha que bonitinho, quantas vezes não se sentiram assim apertados com um nó na garganta?O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
1 Comments:
Uma vez escrevi esse poema à mão numa folha de dossiê A4 pautada. Dobrei-a em vários quadradinhos e guardei-a no bolso do meu blusão de ganga. Ainda guardo na memória o livro de Português de onde o copiei: tinha folhas amarelas de papel reciclado. Provavelmente andava no 8.º ou 9.º ano, porque o associo à escola que na altura frequentava e algumas pessoas que conhecia... Curioso (e não tanto amoroso), tantas são as memórias que um poema de Pessoa pode despoletar... Um dos poemas da minha vida, certamente (atenção, piada altamente pessoal que exige extrema concentração para ser decifrada - é melhor perguntares depois).
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