Peripécias do dia-a-dia
Vinha eu a subir a Guerra Junqueiro em pleno Feriadão, quando fui confrontada com duas embalagens de perfumes cores-de-rosa diante do meu nariz. A Sra. Cigana aprontou de imediato o negócio. Apercebendo-se de que duas ingénuas jovens se atravessavam no seu caminho, encenou todo o espectáculo. Um perfume 30 euros, menina, é da moda. Eu olhei, realmente, que boa prenda de Natal, um perfume novinho em folha e tão barato, da Acqua de Gio, Lacoste, ou da Gucchi, ou do que eu quizer, é só ir buscar ao camião dos presentes. A minha amiga entrou a matar, pediu 20 euros e perguntou qual era a proveniênia dos perfumes. A Sra. então cedeu um pouco a corda e ofereceu por 40 euros os dois. Mas não temos o dinheiro aqui à mão. Podem levantar aqui já ao lado, diz o Sr. Cigano, com ar de raposão e dentes de ouro, que esconde dentro do casaco preto de cabedal caixinhas quadradas e rectangulares em todos os bolsos possíveis e imaginários. Se não sabiam passam a saber, que esta raça tem a particularidade especial de saber dar o bailinho a todos os que lhes dêem conversa, não sei porquê, mas a vida é feita destas coisas.
No dia-a- dia, para as Sras. ler a sina é uma habitué da tarde e para os Srs. temos o curso de dicas de venda de tapetes orientais, ao passo que de noite embalam os seus dez filhotes e penteiam as tranças das meninas ciganitas. Mas há sempre tempo para descobertas: Após várias tentativas de experiências, conseguiram inventar num fábrica improvisada à pressão, uma fórmula química que mistura essências de colónias baratas para fabricar os perfumes da moda. Existe depois o ex-libris, uma fotocopiadora XPTO que tira retratos idênticos às capas dos perfumes mais famosos. E os direitos de autor? Calma, tudo foi pensado ao milímetro, o Sr.Gucchi, entre outros, cederam parteda sua fortuna, como consta do contrato assinado pelas caravanas todas em circuito. Então, está bem, levamos os dois frascos e metemos tudo na mala, antes que venha a polícia e nos leve todos para a choldra. Olhe que não se vão arrepender, replica a vendedora, até ali as senhoras da perfumaria à bocado me vieram comprar um frasco. Que óbvio, não é? Se até elas, que provavelmente têm descontos em produtos da sua própria perfumaria, preferem mesmo assim ir à Sra. Cigana poupar uns euros.
Passados dez minutos decidimos abrir os frascos. O cheiro era forte, tipo ambientadores das casas de banho, mas os frascos eram do melhor, imaginem só, pintados à mão. Começa a perseguição em fúria. Queremos o nosso dinheiro já, não há cá mais conversas, porque isto é tudo falso. A Sra. Cigana tem muita piada, afinal gastou tudo em fraldas para o filho e em comida para encher a barriguinha de mais uns bolinhos. Mas dá a garantia, eu vendo rapidinho mais uns sonhos de Natal e tudo se resolve. É só voltarem daqui a meia hora e nós ficamos aqui paradinhos à vossa espera, qual reis magos no presépio. Então faça o seu trabalho, insiste a minha amiga. Sem dó nem ré, a cigana começa a afastar o seu rabinho de sereia entre as perninhas e foge. Juntam-se mais uns quantosa ela, que se justificam, porque também eles são vítimas do sistema e compram os produtos assim... Afinal não existe só uma fábrica, a concorrência e o espírito capitalista já inundaram as caravanas ciganas, e cada um se tenta aldrabar mais que o outro.
Passados dez minutos decidimos abrir os frascos. O cheiro era forte, tipo ambientadores das casas de banho, mas os frascos eram do melhor, imaginem só, pintados à mão. Começa a perseguição em fúria. Queremos o nosso dinheiro já, não há cá mais conversas, porque isto é tudo falso. A Sra. Cigana tem muita piada, afinal gastou tudo em fraldas para o filho e em comida para encher a barriguinha de mais uns bolinhos. Mas dá a garantia, eu vendo rapidinho mais uns sonhos de Natal e tudo se resolve. É só voltarem daqui a meia hora e nós ficamos aqui paradinhos à vossa espera, qual reis magos no presépio. Então faça o seu trabalho, insiste a minha amiga. Sem dó nem ré, a cigana começa a afastar o seu rabinho de sereia entre as perninhas e foge. Juntam-se mais uns quantosa ela, que se justificam, porque também eles são vítimas do sistema e compram os produtos assim... Afinal não existe só uma fábrica, a concorrência e o espírito capitalista já inundaram as caravanas ciganas, e cada um se tenta aldrabar mais que o outro.
Quando demos por isso, já tinham fugido e nem precisaram de correr... Nós apenas nos limitámos a dizer que íamos chamar a polícia, mas infelizmente os Srs. de farda azul só se encontram quando menos precisamos das suas acções de caridade. Não desistimos, vamos atrás. Mas o receio instala-se: E se eles resolvem puxar de uma faca ou de uma arma? Enquanto pensamos nisto, eles desmagnetizam-se pela boca do metro e nós ficamos de mãos a abanar, sem as nossas notas, nem mais idéias espertas... Belo feriado, não?
2 Comments:
Ai Maria, enton pensavas qui compravas assim perfumes baratos? Ná conheces os ciganus? :)
O mai barato sai mai caro. Devias era ter ido comprar o meu presente ao El Corte Inglés e não aos ciganos da Guerra Junqueiro. ;-)
Mas os ciganos são um povo com coisas muito boas também. Temos é de ter abertura de espírito para as conhecer.
Bj
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