c Trambolhão: Melodias

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Melodias



A dor de dentes é aflitiva. Parece que temos uma broca na boca a serrar-nos o dente, a gengiva e até a língua. Mas uma dor de cabeça, mesmo na testa por cima dos olhos é sinal de stress, porque significa que temos a testa sempre franzida, como que chateados com qualquer coisa, embora não saibamos bem o quê.A dor de pernas dá entorpecimento, mas não quietude. Penso sempre que estou a crescer para me animar, mas não há provas disso. Mas a mais forte é mesmo a dor da alma. Tudo dói, o pé, a cabeça, os dentes, o estômago, as costas, não há qualquer obstáculo à sua propagação. Eu quando estou assim dorida, sinto-me como um animal ferido e sem forças. Nesses momentos o que gostava mesmo era de poder uivar como os lobos ao luar, expirar como os elefantes, rugir como os ursos que são abatidos, ter um som forte que deitasse tudo o que me vai cá por dentro, ou doce como os cânticos melancólicos das nobres baleias.
Durante a noite, sentava-me na borda do meu terraço e dava azo às minhas tristezas, propagava-lhes o sopro da vida. Logo outros insomníacos iriam ter ao meu alcance. Formávamos uma trupe, una e protectora dos vossos sonhos e juraríamos a solene profecia de guerrear os vossos pesadelos.

2 Comments:

At 1:06 da manhã, janeiro 08, 2006, Anonymous Anónimo said...

É com alguma admiração e estranho contentamento que regresso do universo, paralelo ou não, para onde me transportou este texto de mística sensibilidade e perspicácia de observação, onde a fluência se confunde com os doces cânticos e com a embriaguez na descrição de sensações... Tão próxima e, no entanto, tão distante, esta ilusão da realidade. Espero continuar a poder embrenhar-me no mundo das pequenas fantasias que tornam apetecível nossa existência e que renascem em cada letra, em cada palavra, em cada frase destes textos...

 
At 1:11 da manhã, janeiro 08, 2006, Anonymous Anónimo said...

É com alguma admiração e estranho contentamento que regresso do universo, paralelo ou não, para onde me transportou este texto de mística sensibilidade e perspicácia de observação, onde a fluência se confunde com os doces cânticos e com a embriaguez na descrição de sensações... Tão próxima e, no entanto, tão distante, esta ilusão da realidade. Espero continuar a poder embrenhar-me no mundo das pequenas fantasias que tornam apetecível nossa existência e que renascem em cada letra, em cada palavra, em cada frase destes textos...

 

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