Aprender a ler
Às vezes demora muito tempo a conseguirmos aprender a ler o outro. Porque ele não se mostra inteiro, nem se revela de uma vez só, torna-se qual peixe num aquário, mas um de vidro bem espesso. E precisamos de bater devagarinho do outro lado e ficar sentados no banco da cozinha a perceber as suas reacções. Ele olha com os olhos bem esbugalhados, e começa a girar rapidamente, até ficar tonto e deixar-se apenas boiar ao som de música clássica que sai do saxofone. Porque apesar de tudo primeiro estranha-se o contacto e só depois de entranha, nas nossas entranhas mais fundas. Porque ninguém gosta de se deixar perceber à primeira vez e todos fantasiam o mistério. O outro é um mapa, com cores por vezes muito definidas, por vezes transparentes, outras indefinidas. Percebemos as coisas com alterações de humor, com berros, hesitações, pausas e sobretudo silêncios. Acho que o silêncio, que hoje escasseia, é um sinal de quebra, de necessidade de isolamento. Este porventura será o maior e mais evidente sinal de quem prefere estar só, é uma reacção fácil de perceber, é o sinal de que o outro não está disposto a estabelecer qualquer tipo de relação connosco.De acordo com o silêncio, eu divido as pessoas em três tipos. Primeiro, as que se silenciam bastante a si próprias, ou seja, são as caixinhas que só dão a chave quando querem e a muito poucos. Segundo, as que falam sobre tudo e sobre nada e raramente fazem silêncio, ou seja, as pessoas espelho que reflectem tudo o que se passa no exterior. Terceiro, temos existências que seguem os silêncios das outras, ou seja, as chamadas sombras, que não estão por cá espiritualmente, apenas fisicamente....
E deve haver mais tipos, ou seremos todos uma combinação destas três?
Até amanhã....
3 Comments:
Há quem fale muito, sobre tudo e sobre nada, para esconder a sua própria essência, não se mostrando nunca apesar de tudo o que coloca à sua volta.
Há quem nada diga, sorria, olhe, observe, e o seu olhar e sorriso digam tudo.
E há os amigos, os verdadeiros, aqueles que só revelam a determinadas pessoas aquilo que de facto são e pensam. É só preciso estar atento. Olhar para alguém como se olha para o peixinho no aquário, com paciência e amor, e perceber «Este é mesmo meu amigo!».
Continua com os textos 'nês :-)
OLá pedrão!
Olha que bonito, gostei muito deste tema. Se bem que não concorde contigo numa coisa - acho que o silêncio pode significar não só uma "quebra", mas também a necessidade muito íntima de partilhar algo com outra pessoa, de saborear o outro sem o empecilho que são muitas vezes as palavras. Porque nesta vida onde tudo é confusão e barulho e obrigações, poder desfrutar do toque do outro, da visão do outro, do cheiro do outro, sem nada pelo meio a distorcer as percepções, é cada vez mais uma dádiva e, para mim, uma necessidade. Beijinhos silenciosos para ti! (chuac)
Enviar um comentário
<< Home