c Trambolhão: julho 2011

quinta-feira, julho 21, 2011

Os meus olhos não envelhecem

Sentado à beira do rio brilhante dos meus olhos,


Avisto ao longe o barco velho a balouçar na outra margem,


E o Barqueiro Negro apressado a resgatar os olhos fechados à força pelo tempo.


Com sua licença, desbravo o alerta pela água,


Não se apresse,


Os meus olhos, estes, estão ainda bem abertos!


Passo a explicar,


Quando desperto a claridade da manhã não me fere a vista,


Antes beija-me a fronte sem pudor,


E envolve o meu olhar no rodopio dos vestidos coloridos da infância.


Confesso que desato os punhos doridos da noite com vagar,


E enquanto as minhas vestes já se agitam pela vida,


Os músculos do meu corpo ainda mastigam os grãos de café.


As minhas mãos, não sei o que fazer com elas,


Nem escondê-las sei, fazem parte de mim,


E as manchas disformes nelas denunciam-me,


Como um tiro certeiro no meio da testa.


As letras, ai as letras, tremem quando escrevo,


E revelam o que os meus olhos escondem enquanto durmo.


Mas quando me olho ao espelho,


Pisco o olho a mim próprio,


Imagino o meu olhar perdido de criança,


Revejo-me jovem, cego de amores,


E vejo-me senhor, senhorio do olhar da vidente,


Que previu a desgraça alheia,


E atingiu apenas quem quis ser atingido.


Os meus olhos não envelhecem, eu sei que não,


A dor do riso continua a jorrar dos meus olhos,


Sal picantes e salgadas, as minhas lágrimas não aprenderam a envelhecer,


E eu também não.

terça-feira, julho 05, 2011

Os amores

Não te esqueças de mim!

Sou pequena, mas não me vês?

Estou mesmo à tua frente, roída de curiosidade.

Aqui, sim, anda mais um pouco.

À tua frente, dois passos para a direita e duas voltas pirueta.

Aproxima-te, vá não tenhas medo.

Sem hesitação.


.....


Toma lá dois tiros. E não reclames. Eras pequena, e agora és mínima. Não és minha, mas também não serás de ninguém.