O Ritmo
Detesto sentir pena de mim.Mas como é recorrente este sentimento!
Não gosto de me sentir ofegante,
Mas é preciso correr para chegar lá.
O parque de estacionamento treme,
As moedas pretas não me compraram o lugar.
Já chega de surpresas,
E de mafiosos de sapato branco em casa, Soraia.
Quantas vezes te repito,
“Como te chamas?”
E só me respondeste uma vez,
“Emanuel Tin Tin.”
Gosto de ti assim.
Apetece-me que alguém me diga, és a melhor.
E só me dizem, és a pior.
Ser caixa de supermercado é sofrido,
Os velhos não deixam gorjeta.
Asneiras, Falhas, Decepções,
Errar é humano,
Inumano é não compreender.
Transito de folha,
Mais um episódio da novela,
Jogar às cartas alivia a tensão,
Uma massagem indiana quebra o coração.
Sei fazer contas,
Mas escrever baralha-me a mão.
Prefiro somar e subtrair,
A acrescentar e apagar.
Não passo sem a calculadora,
Já o dicionário pesa no braço.
Tiques de samba,
Batuque de isqueiro,
Jogo do pião na praça,
Cintura de abano e dedo no piano.
Hoje há festa,
O alcóol tresanda a praça,
O Emanuel rima versos sentado,
Assim as pernas não lhe fogem.
Canto de xaile,
Bato na janela,
A Soraia espreita malandra,
O ritmo invade os corpos,
A lua esconde-se envergonhada.
Não há quem me vença,
Esta noite dona serei da minha praça!