Trambolhão
sexta-feira, outubro 31, 2008
Romance
Eu cobria o meu corpo com um vestido branco e leve, quase transparente, da cor da espuma das ondas que embalavam o nosso barco de cruzeiro.
Pediste-me para tirar uma fotografia com as mãos trémulas de amor enquanto puxavas pelo meu sorriso, mas a minha felicidade não me permitia mais, era assim, calma, elegante, contida.
A tua pelo contrário, era como uma ondulação, que te fazia saltar em bicos de pés pelo convés e prender-me pela cintura com excessivo zelo.
Iniciámos uma refeição temperada com lagosta, champagne, lavagante, conchas e os nossos sentidos inundaram-se de mar e no final o chocolate negro aveludou a nossa boca.
As teclas do piano percorreram a nossa dança lenta e não nos queriam largar. Ignorámos os olhares invejosos da sala, ignorámos os convidados que se ausentavam, mas quando a música terminou, pegaste em mim ao colo e refugiámo-nos no nosso quarto até ao amanhecer.
quinta-feira, outubro 23, 2008
Lisboa
São sete as colinas, sete as ondas que te sacudiram,Sete são os beijos que te pespego,
De graça, sem troco, à cautela no beco escuro.
São sete as noites do calendário em que me deito contigo,
No alto de um bairro sentimental, numa rua estreita,
Que aperta o meu e o teu coração, em uníssono.
Desde há anos, desde que me respiro,
Que acordo com o teu sorriso rasgado de amarelo,
Escancarado na ombreira da minha janela,
Nua e crua, armada com sete vidros invísiveis.
Vamos passear, dizias,
Lá em cima, atravessamos as sete chagas de Cristo,
Prefiro percorrer as linhas do teu coração,
Proteger-te dos turistas incómodos, esfomeados,
Em sorver fragmentos da tua alma.
Afinal tenho direito a bilhete grátis,
E assento em primeira fila.
Sacudo a canela das mãos ao vento,
Lambo a última crosta do pastel de nata.
Descubro sete chaves enterradas no meu bolso,
No final da linha, vou fechar à chave o teu coração.