Trambolhão
terça-feira, janeiro 24, 2006
quarta-feira, janeiro 18, 2006
Hoje
Hoje vi um documentário sobre o furacão Kathrina. Sei que já passou, mas fiquei impressionada à mesma. Foi no programa da Oprah, enfim, eu gosto dela, perdoem-me os mais criticos,mas acho que ela está lá. E a bendita apareceu no meio do pedestal humano e mostrou o estádio onde as pessoas dormiam e foram violadas e perderam a razão. Eu não sei, às vezes penso mesmo que a natureza humana é definitivamente animal, está lá arrumada na caixinha com a label de animal racional. Não concordo, animal sim, mas enfiada em convenções, fatos como vos digo, escritórios e segurança. Quando se perde essa tal segurança, a racionalidade escoa-se pelo cano abaixo e aparece a violência, a agressão, o desrespeito e o desespero. Porque essas pessoas não tiveram culpa, foi a natureza, mas transformaram-se em animais, porque foram abandonadas do mundo civilizado que lhes negou a mão e não as puxou cá para cima. E aí descambou a tal segurança, eu nem consigo imaginar como foi, porque as filmagens mostraram o estádio enorme às escuras, agora deserto, mas com os escombros dos milhares que lá se perderam sem saber o que se passava com a mãe, o pai, ou os irmãos, os filhos, deve ter sido o horror. A própria Oprah chorava inconsolada, e repetia ao marechal que era uma mulher forte e que queria entrar. Os homens diziam, não vais conseguir entrar, é demasiado para ti. Qual quê, a Oprah é forte, porque as mulheres não se deixam derrubar nunca. E entrou e por pouco não ia vomitando com o cheiro e eu pensei, eu já teria desmaiado.Hoje vi também uma cantora a dizer na televisão: " os problemas humanos, à parte dos fenómenos naturais e da morte, são todos criados pela própria raça humana" ...E esta hein?
sábado, janeiro 14, 2006
Projectos.
É o projecto da casa, é a promessa de vida no teu coração. Há corações onde sabemos instintivamente que há o direito a caber tudo, o sapo príncipe, os espinhos na mão, os cortes da faca da cozinha, um jipe abandonado no deserto, uma excursão à Amazónia profunda, um doutoramento e um curso superior, um chorar inconsolado, um jantar com direito a silêncios muito saborosos, com crianças e rugas atravessadas na mão e mais tarde em todo o rosto, tudo promessas de vida a dois nesse coração. Belo deve ser encontrar um coração de tão grande transbordante, que consiga sempre e sempre (sem pausas) encontrar espaço para invasões nocturnas e inconvenientes da metade que escolheu...e o ideal, sim, o ideal que existe é que nunca enrole os seus braços apenas sobre si mas que se expanda para o abraço do amor terreno e (in)finito.quarta-feira, janeiro 11, 2006
Incidente
Sempre que corria a persiana, descia os olhos pela pestanas e desabafa um suspiro prolongado, mais prolongado do que a sua capacidade pulmonar o permitia. E dobrava-se, quebrado e postrado nas duas patas humanas, ofegante. O ar corria espesso para o encontro do vidro da janela. Perdera os sentidos, inclusivé o seu céu e a sua terra já não estavam sujeitas à teoria gravitacional nem orbital. Só o gato preto e gordo veio ter ao seu encontro, arranhou com cuidado e ternura suave o seu corpo inanimado, e fugiu porque pressentiu a hipótese de uma liberdade segura e de uma casa inteira ao seu dispor. O dono esse estava cada vez mais frio. Os seus lábios ficaram roxos e as mãos tremelicavam. A perna deu um esticão, como se possuído por uma corrente eléctrica magnificante, estirou-se. Mas o individuo deu meia volta e fez frente ao tunel brilhante que via ao fundo. Preferia sentir mais uma vez a doce e quente voz da vizinha do quarto esquerdo, que roçava a sua mão na sua perna, quando todos os dias se encontravam de manhã, nas escadas velhas do prédio nº 5 da rua 10, da cidade 23 do país 67 do planeta OMEGA.Raiva
Tou frustrada, irritada, apetece-me bater em todo o mundo. não consigo terminar o meu trabalho, não consigo fazer os exames, não consigo ser seleccionada para a Alemanha, nada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!infelizmente, e para que todos saibam, há realmente dias assim!!!!
sexta-feira, janeiro 06, 2006
Melodias
A dor de dentes é aflitiva. Parece que temos uma broca na boca a serrar-nos o dente, a gengiva e até a língua. Mas uma dor de cabeça, mesmo na testa por cima dos olhos é sinal de stress, porque significa que temos a testa sempre franzida, como que chateados com qualquer coisa, embora não saibamos bem o quê.A dor de pernas dá entorpecimento, mas não quietude. Penso sempre que estou a crescer para me animar, mas não há provas disso. Mas a mais forte é mesmo a dor da alma. Tudo dói, o pé, a cabeça, os dentes, o estômago, as costas, não há qualquer obstáculo à sua propagação. Eu quando estou assim dorida, sinto-me como um animal ferido e sem forças. Nesses momentos o que gostava mesmo era de poder uivar como os lobos ao luar, expirar como os elefantes, rugir como os ursos que são abatidos, ter um som forte que deitasse tudo o que me vai cá por dentro, ou doce como os cânticos melancólicos das nobres baleias.
Durante a noite, sentava-me na borda do meu terraço e dava azo às minhas tristezas, propagava-lhes o sopro da vida. Logo outros insomníacos iriam ter ao meu alcance. Formávamos uma trupe, una e protectora dos vossos sonhos e juraríamos a solene profecia de guerrear os vossos pesadelos.
quinta-feira, janeiro 05, 2006
Cores
Vou pintar o meu quarto com riscas verdes. O meu cabelo vai ficar azul nas pontas. As unhas, essas, reflectem o castanho forte e escuro. O meu papagaio vai ser banhado a ouro e estrelas pirilimpinpin. O baú velho no sotao será forrado de vermelho velho, quase encarnado.De manha, depois de espreguicar o sono, encho o meu jardim de túlipas amarelas e à tarde, ao passear na praia, salpico a pele de dourados quentes. Durante a noite envolvo-me no azul escuro do céu e navego por mares nunca antes conquistados.
Há dias em que podemos renascer, mudar as cores do mundo em que vivemos e sentir tudo diferente.